Ícone audiovisual da América Latina
Orlando Senna, um ícone audiovisual da América Latina e presidente histórico da nossa rede, estrelou uma aula magna em homenagem à sua prolífica carreira artística e criativa, e aos seus oitenta anos, na sexta-feira, 31 de julho. Organizada pela TAL e DocMontevideo como epílogo do Seminário Documentário online do evento deste ano, a conversa com o cineasta, escritor e jornalista brasileiro - transmitida pelo Facebook Live - proporcionou uma interessante imersão em sua vida e obra, com destaque para mais de 30 filmes de ficção e documentário, seu pensamento como um dos principais teóricos do cinema não só no Brasil mas em toda a América Latina, e sua atuação como gestor fundamental de projetos de integração para a política audiovisual da região, entre os quais a sua liderança à frente da TAL por sete anos.
Entre anedotas e reflexões, Orlando Senna narrou os fatos mais marcantes da sua história de vida, uma história épica que abrange praticamente todos os movimentos culturais brasileiros durante mais de cinco décadas. Seu nascimento São Salvador, Bahia, o crescimento no meio a uma forte tradição religiosa com constantes misturas e processos de transculturação entre o candomblé e o catolicismo, as aulas de atuação e direção teatral na Universidade Federal da Bahia, desde muito cedo sua maneira de ser e pensar, sua cosmovisão do mundo.
Daí a presença recorrente em primeiros filmes desta cidade com vocação criativa e sincrética. A excepcional capacidade intelectual demonstrada desde então em suas obras é sintomática de um profundo compromisso com o seu tempo e do um humanismo sem limites que, a partir da arte, buscou contribuir para o reconhecimento e as possibilidades de expressão "do outro".
Entre 1974 e 1978, fez uma trilogia de filmes que mostram aspectos essenciais do Brasil, desconhecidos por muitos. Tem o seu clássico Iracema, una transa amazônica (1974), longa-metragem de ficção antológica do cinema brasileiro, codirigido com Jorge Bodanzky; seguido por Gitirana (1975), também codirigido com Bodanzky, e dois anos depois Diamante bruto (1977), uma história de amor sobre a fecunda cidade onde nasceu.
Ao longo da sua carreira, Orlando Senna conseguiu alternar seu trabalho como cineasta, com o de jornalista e diretor de teatro, mantendo uma notável capacidade criativa nessas três áreas. Escreveu cerca de 30 textos dramáticos para o palco, foi produtor de shows e concertos para importantes cantores brasileiros e participou da gestação de uma nova forma de teatro que mais tarde se tornou todo um movimento de ruptura. O Tropicalismo abalou o mundo da música popular como um grito cultural em meio à escuridão política que varreu o Brasil no fim dos anos 60.
Os anos em que viveu em Cuba foram, nas palavras do próprio Senna, "a fase mais feliz e criativa". Lá, juntamente com Santiago Álvarez, pai do documentário cubano, ele codirigiu o longa-metragem Brascuba (1987), sobre os laços culturais entre Brasil e Cuba. Posteriormente, foi diretor geral da Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños (1991-1994). Durante sua gestão, a escola recebeu o Prêmio Rossellini no Festival de Cannes, por incorporar em sua obra "o espírito de desenvolvimento, generosidade e humanismo". Nesses anos, também passou a ser membro do Conselho Superior da Fundação para o Novo Cinema Latino-americano, com sede na ilha.
De volta ao cenário brasileiro, dirigiu o Centro de Dramaturgia do Instituto Dragão do Mar e, entre 2003 e 2007, foi protagonista de uma gestão inédita à frente da Secretaria Nacional do Audiovisual do Brasil. As suas contribuições mais relevantes para o universo da televisão, cujas ligações também fomentou ao longo dos anos, centraram-se na criação e promoção do programa Doc TV e na integração de canais públicos, educativos e culturais da América Latina.
A figura de Orlando Senna sintetiza, portanto, o espírito do intelectual irredutível e paradigma de e para o audiovisual baiano, brasileiro e latino-americano.
Lea Pintado, La Habana
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Publicado por TAL - Televisión América Latina en Viernes, 31 de julio de 2020